Etapas de um guião
Para se escrever um guião é necessário ter um método específico, que deve ser efectuado por partes, seguindo uma estrutura lógica. Segue-se nas subsecções uma proposta de seis etapas, baseada em Doc Comparato (2004) no livro da Criação ao Guião, no processo que leva ao guião final, sendo elas: Ideia; Conflito; Personagens; Acção dramática; Tempo dramático; Unidade dramática.
1ª Etapa - Ideia
Um guião parte sempre de um uma ideia, de um facto ou de um fenómeno que provoca no escritor a necessidade de relatar. A procura de ideias ou a sua descoberta nem sempre é uma atividade fácil de conseguir. As ideias, por vezes, surgem de forma subtil e difíceis de alcançar. No entanto, terão de se transformar no fundamento do guião, por isso a exigência é maior na sua descoberta e na sua definição.
2ª Etapa - O conflito
Um primeiro conflito a abordar será a base do trabalho do guionista, que se chamará conflito-matriz. Este conflito deve ser concretizado através das palavras. Começa aqui o trabalho de escrever: inicialmente fazemos um esboço e começamos por imaginar a história, tendo como ponto de partida uma fase a qual chamamos story line. Desta forma, a story line é a concentração do nosso conflito básico fixado em palavras.
Há quem diga que um bom guião, uma boa obra de teatro, se podem resumir numa única frase. Suponhamos que Hamlet, de Shakespeare, se resume como se segue:
«Era uma vez um príncipe cujo pai, o rei, foi assassinado pelo seu próprio irmão e com o fim de usurpar o trono. Este crime conduziu o jovem a uma crise existencial, que desembocou numa onda de mortes, incluindo a sua.» Pode-se dizer que esta frase contém, em síntese, toda a história de Hamlet, o conflito-matriz, ou seja, a story line.
Também podemos adaptar histórias ao cinema, criando uma nova story line. Neste sentido, uma story line deve ser breve, concisa e eficaz. Recomenda-se que não deve ultrapassar as cinco linhas através dela devemos ficar com a noção daquilo que vamos contar. Em suma. O conflito básico surge através da story line e significa aquilo que vamos desenvolver.
3ª Etapa - Personagens
Nesta etapa vamos pensar quem vai viver o conflito básico, ou seja criar personagens. São elas que sustentam o peso da ação e são o ponto de atenção mais direto para os espectadores e não só, também são o alvo mais fácil para os críticos. O desenvolvimento de um carácter é essencial para um bom argumento. Esse desenvolvimento faz-se através da elaboração do argumento ou sinopse. Nesta fase começamos a desenhar as personagens e a localizar a história no espaço e tempo.
Na sinopse é fundamental a descrição do carácter das personagens principais. É ela quem vai viver essa história, onde e quando a situamos.
4ª Etapa - Ação dramática
Nesta etapa será construída a ação dramática, ou seja, a maneira como vamos contar o conflito básico, através das personagens. Juntamos o como aos anteriores, ficando o quê, quem, onde, quando e como. De que forma vamos contar esta história. A isto, chama-se ação dramática. Para trabalhar nesta ação é necessária uma estrutura, sendo assim esta etapa é na realidade a construção de uma estrutura. Então a estrutura é a organização do enredo em cenas. Cada cena tem localização no tempo, no espaço e na ação. Na prática a estrutura é a fragmentação do argumento em cenas sem diálogos.
5ª Etapa - Tempo dramático
Pode-se dizer que dentro de uma cena se desenvolve uma ação dramática num determinado tempo. Este pode ser lento, rápido, ágil, etc.
O tempo dramático identifica o quanto, quanto tempo terá cada cena. Isto é, coloca-se os diálogos na cenas, através deles, começa-se a dar ao trabalho uma forma de guião. Feito, isto, nesta etapa completaremos a estrutura do diálogo, assim sendo cada cena terá o seu tempo dramático e a sua função dramática.
Nesta etapa há diálogos, em que as personagens desenvolvem-se – quem é quem, como e porquê. Estará tudo aquilo que há-de suceder detalhadamente em cada cena relativo a cada personagem. Fica assim o primeiro rascunho do guião a que se juntarão revisões e retificações. Este será revisto pelo produtor, o realizador, entre outros, passando assim por uma primeira visão crítica do trabalho realizado.
6ª Etapa - Unidade dramática
Esta etapa o guião já deve estar pronto para ser filmado ou gravado – é o guião final. Aqui o realizador vai trabalhar com as cenas, onde o guião é o guia para a construção do produto audiovisual. É o momento em que a unidade dramática, a cena, se torna realidade.